segunda-feira, 16 de julho de 2007

Tema floral com uma cruz no centro

Tema floral com uma cruz no centro. O quadrado também está dis- 656 posto a modo de uma flor. Os quatro rostos nos cantos representam os quatro pontos cardeais, os quais historicamente são muitas vezes repre-sentados como quatro deuses. Aqui eles têm um caráter demoniaco. Isto pode ligar-se ao fato de a paciente ter nascido nas índias Holandesas, onde mamou com o leite da ama nativa a demonologia da região. Seus inumeros desenhos tinham um caráter nitidamente oriental e assim a aju-daram a assimilar influências que a principio nao se conciliavam com a mentalidade ocidental.Na imagem seguinte, da mesma autora, rostos semelhantes apare- 657 cem nas oito direções. O caráter floral do conjunto oculta ao observador superficial o demoniaco que deve ser conjurado pela mandala. A paciente sentia que o efeito demoniaco provinha da influência européia, com seu moralismo e racionalismo. Criada na índia até os seis anos, conviveu mais tarde com europeus convencionais, o que teve um efeito devastador sobre a deiicadeza de flor de seu espirito oriental, causando-lhe um trauma psiquico persistente. No tratamento, seu mundo originário emergiu novamente com esses desenhos e isso determinou sua cura animica.Imagem 8O tema floral vai se desdobrando e se impõe ao tomar o espaço das caretas. 658Imagem 9Esta ilustração exprime um estado mais tardio. O cuidado minucioso 659 do desenho compete com a riqueza de cor e forma. Reconhece-se através deles não só a extraordinária concentração da desenhista como também a vitória do "ornamento floral" do Oriente sobre o intelectualismo, racionalismo e moralismo demoniacos do Ocidente. Ao mesmo tempo tor-na-se visível o novo centramento da personalidade.Imagem 10Neste desenho de outra paciente jovem vemos nos quatro pontos 660 cardeais cabeças bizarras, representando um pássaro, um carneiro, umaserpente e uma cabeça antropomórfica de leão. Juntamente com as qua-tro cores com que são pintadas as quatro regiões, são corporificados qua-tro principios. O interior é vazio. Ele abriga o nada, expresso através de uma quatemidade. Isto concorda com a multiplicidade preponderante das mandalas individuais: em regra geral encontra-se no centro o tema do "rotundum", do redondo, que conhecemos na alquimia, ou a emanação quádrupla, ou a quadratura do circulo ou, mais raramente, a própria forma humana em seu sentido geral, isto é, como Anthropos. Encontramos esse tema também na alquimia ~. Os quatro animais lembram os queru-bins da visão de Ezequiel, bem como os simbolos dos quatro evangelis-tas e os quatro filhos de Hórus, os quais também podem ser representados de forma semelhante, isto é, três com cabeças de animais e urn com cabe-ça humana. Os animais significam em geral as forças instintivas do in-consciente que se concentram numa unidade na mandala. Essa integra-ção dos instintos constitui uma condição prévia da individuação.Imagem 11661 Nesta mandala de uma paciente mais idosa vê-se a flor não embaixo,mas no alto. A forma circular foi preservada dentro do quadrado através das linhas diretrizes do desenho, de modo que este deve ser visto como mandala apesar de sua singularidade. A planta representa o crescimento, isto é, o desenvolvimento, à semelhança do broto verde no chacra do dia-fragma do sistema kundalini tântrico, o qual significa Shiva. Ele representa o centro e o masculino, ao passo que o cálice da flor representa o fe-minino, local da germinação e do nascimento . Assim Buda é represen-tado como o deus em germinação, porquanto está sentado na flor de lotus. Ele é o deus nascente, o mesmo simbolo de Rá como falcão, a fênix que se eleva do ninho, Mitra na copa da árvore, ou o filho de Hórus dentro da flor de lótus. Todos eles são representações do status nascendi no lu-gar germinativo do solo materno. Nos hinos medievais, Maria também é louvada como cálice de flor, sobre o qual desce Cristo como pássaro, nele repousando em aconchego. Psicologicamente, Cristo significa a unidade, a qual se revela através do corpo da Mãe de Deus, ou do corpo mistico da Igreja, como que envolto em pétalas de flor, manifestando-se assim na12. Cf. minhas cxplanaçõcs in: Psicologia e religião.13. Cf. WILHELM c JUNG, O segredo da flor de ouro.realidade. Cristo, como idéia, é um símbolo do si-mesmo14. Tal como a planta representa o crescimento, a flor manifesta o desabrochar a partir de um centro.Imagem 12Aqui os quatro raios que emanam do centro atravessam o quadro intei- 662 ro. Isto confere ao centro um caráter dinâmico. A estrutura de flor é um multiplo de quatro. O quadro é característico da personalidade marcante da autora que possui um certo talento artistico. (A imagem 5 foi criada pela mesma pessoa.) Além disso, ela é especialmente dotada de um sentido místico cristão que representa um grande papel em sua vida. Para ela era muito importante vivenciar o cenário arquetípico dos símbolos cristãos.Imagem 13Fotografia de um tapete feito por uma mulher de meia idade, em um 663 periodo de grande aflição interna e externa, à maneira do tecido de Penelope. Trata-se de uma médica que, num trabalho diligente, diário, que du-rou meses, teceu este círculo mágico como contrapeso às dificuldades de sua vida. Não era paciente minha, sendo portanto impossivel ter sofrido a minha influência. O tapete contém uma flor de oito pétalas. Sua peculia-ridade é ter verdadeiramente um "em cima" e um "embaixo". Em cima há luz, embaixo um relativo escuro. Dentro deste encontra-se uma espé-cie de escaravelho, representando um conteúdo inconsciente, compará-vel à situação do Sol nascente como Khepri. Nao raro, o "em cima" e o "embaixo" encontram-se fora do círculo protetor e não dentro dele. Em casos semelhantes a mandala oferece proteçao contra os opostos extre-mos, isto é, toda a agudeza do conflito aindanão é reconhecida ou sentida como insuportável. O circulo protetor guarda contra um possivel rompi-mento através da tensão entre os opostos.

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