quinta-feira, 19 de julho de 2007

PRIMEIRA PARTE [INVERNO DE 1928, NOVEMBRO E DEZEMBRO] (CONFERÊNCIA I: 7 DE NOVEMBRO DE 1928 )

A análise de sonhos é o problema central do tratamento analítico, porque é o meio técnico mais importante para abrir um caminho para o inconsciente.

O objeto principal deste tratamento, como vocês sabem, é o de perceber a mensagem do inconsciente. O paciente vem ao analista usualmente porque se encontra num impasse ou cul-de-sac[1], onde parece não haver saída, e ele assume que o médico irá saber o caminho. Se o médico é honesto, ele reconhece que também não sabe o caminho. Mas algumas vezes os médicos não o são: há apenas cento e cinqüenta anos atrás, médicos eram estes charlatães que iam às feiras e arrancavam dentes, executavam curas maravilhosas, etc., e esta atitude ainda prevalece em certa extensão na profissão médica, nos dias atuais - os seres humanos são maus, em todo lugar! Em análise devemos ser muito cuidadosos para não assumir que sabemos tudo sobre o paciente ou que sabemos a saída de suas dificuldades. Se o médico diz a ele o que pensa que é o problema, ele segue as sugestões do médico e não experiência por si mesmo. As sugestões podem funcionar por um tempo, mas quando ele está distante o paciente entra em colapso porque não tem contato consigo mesmo e está vivendo não seu próprio caminho, mas o caminho do médico. Ele tem, então, que voltar ao médico para novas sugestões, e logo isto se torna desgostoso a ambos. É importante que o médico admita que não sabe; então ambos estão prontos para aceitar os fatos imparciais da natureza, realidades científicas. Opiniões pessoais são julgamentos mais ou menos arbitrários e podem estar completamente erradas; nunca estamos seguros de estarmos certos. Portanto, devemos pesquisar os fatos fornecidos pelos sonhos. Sonhos são fatos objetivos. Eles não respondem às nossas expectativas, e nós não os inventamos; se alguém pretende sonhar com determinadas coisas, verá que é impossível.
2 Nós sonhamos sobre nossas questões, nossas dificuldades. Existe um dito de que o noivo nunca sonha com a noiva. Isto porque ele a tem na realidade; somente mais tarde, quando existe problema, é que ele sonha com ela - e então ela geralmente já é a esposa. Nós somos bastante incapazes de influenciar nossos sonhos, e o meio externo presente não necessariamente fornece o material do sonho. Mesmo quando algo realmente importante ou fascinante ocorre, com freqüência não existem muitos traços disso em nossos sonhos. Eu fiquei muito desapontado quando estava na África[2]: em toda uma série de sonhos não havia nenhum traço da África apesar das mais impressionantes experiências; nenhum único sonho com cenário africano ou com negros - salvo uma vez, no final do terceiro mês, e então o negro se tornou um barbeiro que, lembrei-me depois, havia cortado meu cabelo em Chattanooga (América)[3].
3 Nossos sonhos são muito peculiarmente independentes de nossa consciência e excepcionalmente valiosos, porque não trapaceiam. Eles são difíceis de ler, assim como os fatos da fisiologia sempre foram difíceis de ler. Da mesma forma que uma técnica séria é requerida para fazer um diagnóstico de coração, fígado, etc., é preciso trabalhar uma técnica séria no sentido de ler os fatos imparciais dos sonhos. Não há dúvida quanto à imparcialidade dos fatos, mas sim com relação à leitura dos fatos; portanto, há um grande número de pontos de vista - o freudiano, por exemplo. Eu não posso discutir os diferentes métodos aqui, mas apenas apresentar o material. Nós tentaremos trabalhar as leituras juntos, e vocês podem conjecturar. Os sonhos mais interessantes são muito excitantes, mas eles são mais fáceis de compreender que os mais simples.
4 Os primitivos acreditam em dois tipos diferentes de sonhos: ota, a grande visão, volumosa, significativa e de importância coletiva; e vudota[4], o pequeno sonho comum. Usualmente, eles negam ter o sonho comum ou, se depois de longos esforços de sua[5] parte, eles admitem uma tal ocorrência, dizem: "Isto não é nada, todo mundo tem isso!". Sonhos grandes e importantes são muito raros, e só um homem realmente grande tem grandes sonhos - chefes, curandeiros, pessoas com mana. Eles disseram que eu também teria uma grande visão porque eu era um grande senhor, e alguém com cem anos de idade, porque eu tinha cabelos brancos e estava apto a ler o grande livro, o Alcorão. Nosso usual preconceito[6] contra os sonhos - de que eles não significam nada - é provavelmente a velha tradição de que os sonhos ordinários não têm nada de relevante. Exploradores dizem que, quando um chefe ou alguém com mana tem um grande sonho, ele sempre chama a aldeia, e todos sentam e escutam, esperam e consideram, e freqüentemente seguem o conselho dado.
5 Talvez os últimos traços de sonhos com tal importância pública possam ser encontrados na época romana. A filha de um senador sonhou que uma deusa apareceu para ela e reprovou-a pelo fato de que seu templo estava decadente em função da negligência; e falou-lhe que ele devia ser reconstruído. Então ela foi ao senado e relatou seu sonho, e os senadores decidiram reconstruir o templo[7].
6 Outro fato ocorreu em Atenas, quando um famoso poeta sonhou que um certo homem havia roubado um vaso precioso de ouro do templo de Hermes, tendo-o escondido em certo lugar. Ele não acreditava em sonhos, e a primeira vez que isso aconteceu ele rejeitou. Mas quando ocorreu uma segunda e uma terceira vez, ele pensou que os deuses estavam insistindo e que devia ser verdade. Ele foi ao Areópago, o equivalente do Senado Romano, e contou seu sonho. Então uma busca foi feita, o ladrão foi encontrado, e o vaso foi recuperado[8].
7 Os primitivos africanos, agora, dependem do inglês para guiá-los, não mais do sonho do feiticeiro. A opinião geral é que o feiticeiro ou o chefe deixaram de ter esses sonhos desde que os ingleses estiveram na região. Eles dizem que o comissariado conhece tudo agora - as fronteiras da guerra, as fronteiras dos campos, quem matou a ovelha, etc. Isso mostra que o sonho tem formalmente uma função social e política, o líder apreendendo seus pensamentos direto do céu, guiando seu povo diretamente de seu inconsciente.
8 Rasmussen soube de um esquimó (filho de uma mulher esquimó e um dinamarquês, que havia vivido com ele na Groenlândia) uma história maravilhosa de um velho feiticeiro que, guiado por um sonho, levou sua tribo da Groenlândia, através da Baía Baffin, para a América do Norte. A tribo havia aumentado rapidamente e houve grande escassez de alimentos, e ele sonhou com um país distante com fartura de peixes, baleias, focas, etc., uma região fértil. A tribo inteira acreditou nele e eles começaram a viagem através do gelo. Na metade do caminho, certos velhos começaram a duvidar, como acontece sempre: a visão está certa ou errada? Então metade da tribo voltou, somente para perecer, enquanto o sonhador continuou com a outra metade e chegou à costa da América do Norte[9].
9 Nossos pequenos sonhos não têm tal importância, nem soluções coletivas ou universais, embora sejam válidos numa situação particular, mas pode-se ver, em sonhos comuns como estes que estou selecionando, a mesma função de guia e a tentativa de solucionar o problema.
10 A pessoa de cujos sonhos vamos falar é um homem de negócios com quarenta e cinco anos, um bom intelecto, culto, próspero, muito educado e sociável, casado, com três ou quatro filhos; não muito neurótico, porém suscetível; seu problema principal é que ele é irritável e particularmente ansioso para evitar situações nas quais se possa reprová-lo ou feri-lo. Ele teve uma dor no estômago e sentiu-se nauseado uma vez, quando a polícia o deteve por excesso de velocidade. Isto mostra que algo não está bem certo. Ele tenta ser terrivelmente correto, e apenas aqueles que têm habilidade ou tendência para serem incorretos tentam ser tão corretos, para atingir a perfeição; quando as pessoas tentam ser anormalmente boas, algo está tentando tornar-se absolutamente errado[10]. Ele é muito correto na superfície - maneiras, discurso, vestimentas, muito cuidadoso em cada possibilidade; não fuma em demasia nem bebe, e tem pontos de vista razoáveis sobre como se deve viver. No entanto, detrás desta superfície virtuosa há algum problema em sua sexualidade; ele tem se tornado mais ou menos afastado de sua mulher, que já não está particularmente interessada nele e está, portanto, frígida. Assim, ele começou a ser atraído por novidades, principalmente por aquilo que chamamos mulheres[11]; ocasionalmente, ele vai a prostitutas de alta classe, e então, para compensar, tenta ser mais e mais correto. Ele não quer enfrentar seu problema, explica isso como um "erro ocasional", arrepende-se e, a cada vez, diz que isso "não acontecerá novamente", como é com a masturbação - até o dia depois de amanhã.
11 Esta é uma maneira imoral de comportar-se diante do problema, e por isso ele nunca se resolve, mas mantém a pessoa sentindo-se, de modo crônico, moralmente inferior. Um estado de mórbida inferioridade, que tem de ser compensado por um excesso de correção, não é bom para ele, nem para sua família, nem para outrem. Isso tem uma influência muito negativa sobre sua mulher; ela é congelada por sua extrema correção, de tal modo que ela não pode ser imprópria de maneira nenhuma, e assim não pode tornar-se consciente de si mesma, punindo-o com a frigidez. Tamanha correção tem um efeito terrivelmente congelante, faz com que alguém se sinta consideravelmente inferior. Se eu encontro alguém tão virtuoso, fico infernizado, não me sinto bem com pessoas muito virtuosas! Este problema o afundava num pântano. Ele tem lido um bom tanto de psicologia e livros sobre sexo, mas ainda tem este problema não-resolvido com o qual se deveria lidar; aí ele veio a mim. Embora não fosse particularmente neurótico, gradativamente as coisas pioravam, e ele pensou que eu podia dizer-lhe o que fazer a respeito. Eu disse que não tinha idéia. Ele ficou chateado: "Pensei que você saberia". Aí eu disse: "Não sei a solução para o seu problema, mas existem sonhos, fatos imparciais, que podem fornecer informação; vamos ver o que eles dizem". Então começamos a analisar os sonhos dele. O primeiro sonho contém todo o seu problema, e uma pista para sua solução.
[1] (N. do T.): cul-de-sac = beco-sem-saída.
[2] Jung dirigiu uma expedição ao Leste da África, do final de 1925 à primavera de 1926, através do Quênia e de Uganda, e descendo o Nilo até o Egito. Vide MDR, capítulo IX, parte iii. (N. do T.): Na edição em português, págs. 224 e seguintes.
[3] Não há registro da estadia de Jung em Chatanooga, Tennessee, embora ele possivelmente tenha parado lá em uma viagem de trem que fez de Nova Orleans a Washington, D.C., em janeiro de 1925. Vide W. McGuire, "Jung in America, 1924-1925", Spring, 1978, págs. 44-45.
[4] A precisão destes termos Swahili pode ser debatida, e podem haver erros de transcrição (ou Jung pode ter ouvido um dialeto). De acordo com o conselho do Programa da Universidade de Yale em Língua Africana, ota é uma forma verbal que significa "sonhar"; a forma vudota não é registrada e pode ser um erro de transcrição para o substantivo ndoto, simplesmente "sonho". (N. do T.): a confusão pode aumentar se nos reportarmos aos verbos "to dream" (traduzido aqui por "sonhar") e ao substantivo "dream" (traduzido aqui por "sonho"). Se recorrermos, por exemplo, à língua espanhola, podemos encontrar, para o sono e para o sonho, a palavra "sueño" (embora isso não aconteça do mesmo modo com a língua inglesa). O Dicionário Escolar Inglês-Português/Português-Inglês de Oswaldo Serpa, 8a. Edição/7a. Tiragem, editado pelo Ministério da Educação e Cultura, Fundação de Assistência ao Estudante, Rio de Janeiro, 1983 (usado para boa parte das traduções que aqui são feitas), coloca na mesma posição, com relação à tradução do termo "dream", os vocábulos "sonho", "imaginação", "quimera", "ilusão", "fantasia". Essas alusões são, talvez, significativas para a percepção do quanto, na cultura ocidental, encontra-se vago o pensamento ordinário a respeito do sonhar e do sonho.
[5] (N. do T.): Sua parte, aqui, é referência a um esforço feito por um no sentido de convencer o outro, e não do esforço do outro por seu próprio convencimento: no texto original, "your part" é referência a você (ou vocês) e não a ele/ela (ou eles/elas).
[6] (N. do T.): Aqui, preconceito é tradução de "prejudice", que também tem uma conotação de prejuízo ou perda.
[7] Vide "The Tavistock Lectures" (1935), CW 18, parágrafo 250. A deusa é Minerva.
[8] Idem nota anterior. O poeta é Sófocles, o templo era o de Héracles, e o sonho está documentado em "Life of Sophocles", século XII, em Sophoclis Fabulae, editado por A. C. Pearson (Oxford, 1924), p. xix.
[9] Knud Rasmussen, Across Arctic America (Nova Iorque, 1927), cap. III: "A Wizard and His Household". Cf. "The Symbolic Life" (1939), CW 18, parág. 674.
[10] (N. do T.): Este trecho está escrito da seguinte forma: "when people try to be abnormally good, something is trying to go absolutely wrong" (pág. 6 no original). A tradução é a mais próxima possível do literal, uma vez que a referência, aqui, é, provavelmente, ao funcionamento do inconsciente no lugar de "something" - algo, ou alguma coisa.
[11] (N. do T.): Expressão original desta oração: "chiefly by what we call women" (pág. 6). Novamente, é caso de uma tradução literal.
Primeiro Sonho[1]

12 "Eu escuto que uma criança de minha irmã caçula está doente, e meu cunhado vem, e me pede para ir com ele ao teatro e a um jantar em seguida. Eu já comi; no entanto, acho que posso ir com ele.
13 "Nós chegamos a uma grande sala, com uma comprida mesa de jantar, ao centro, já arrumada; nos quatro cantos da grande sala há fileiras de bancos ou assentos, como num anfiteatro, mas estão de costas para a mesa - de modo contrário. Sentamo-nos, e pergunto a meu cunhado por que sua esposa não veio. Aí eu penso que é provavelmente porque a criança está doente, e pergunto como ela está. Ele diz que ela está bem melhor, só com um pouco de febre.
14 "Então eu estou na casa de meu cunhado, e vejo a criança, uma menininha com um ou dois anos de idade. (Ele acrescenta: não há uma tal menina na realidade, mas havia um menino de dois anos). A criança parece um pouco doente, e alguém me informa que ela não pronunciaria o nome de minha esposa, Maria. Eu pronuncio este nome e peço à criança que o repita, que diga 'Tia Maria', mas eu realmente digo 'Tia Mari-', e em vez de, meramente, deixar o 'a' de fora, eu digo 'Mari-ah-ah', como que bocejando, apesar dos protestos das pessoas ao meu redor contra aquela maneira de pronunciar o nome de minha esposa".
15 Dr. Jung: Este sonho comum nos introduz à atmosfera do lar do paciente. Todas as particularidades aqui fornecidas são sobre sua família, de onde podemos tirar uma conclusão importante. Qual é?
16 Sugestão: Que o interesse do sonhador estava muito centrado em sua família e nos indivíduos particularmente próximos?
17 Dr. Jung: Sim, e isto está de acordo com a proverbial idéia dos sonhos. Expressamo-nos através da linguagem que é mais facilmente acessível para nós; vemos isto nos sonhos dos camponeses, soldados, etc., que sonham com coisas familiares, a linguagem diferindo de acordo com a profissão. Devo também enfatizar o fato de que este homem tem vivido muito no estrangeiro; ele é um homem do mundo, um grande viajante. Então, por que ele não sonha com este lado de sua existência, cenário, etc.? Os sonhos posteriores não têm nada a ver com seu lar; logo, há uma razão especial para prestar atenção no fato de que ele sonha primeiro em termos familiares.
18 Sugestão: É porque está aí a sede de seu problema?
19 Dr. Jung: Ele está obviamente detido na terminologia de sua família; assim, talvez seu inconsciente tenda a enfatizar o fato de que seu problema está lá. Agora os detalhes.
20 Criança de sua irmã caçula: dois anos atrás sua primeira criança morreu, um belo menino de dois anos. Ele disse: "Participamos muito na dor dos pais durante a doença da criança e em sua morte por disenteria - ele era meu afilhado". A irmã está conectada com o sonhador principalmente através desta perda, e há uma situação semelhante no sonho: a doença da menininha lembra a época em que o garoto estava doente e morreu. É muito importante saber que ele está ligado à irmã através de uma memória emocional de perda; e aqui ele está, de novo, emocionalmente perturbado pela imagem de uma criança de sua irmã, que mais uma vez está doente. Agora ele está ameaçado com uma perda similar, mas esta é psicológica, uma simbólica façon de parler[2], representada por uma menina. A situação, portanto, é muito semelhante, embora na realidade não seja nada dessa espécie, não há doença na família. Se uma criança de sua irmã estivesse realmente doente, poderíamos dizer que o sonho coincidiu com a realidade. Mas não é isso, esta é apenas uma memória visual trazida à tona para construir a imagem da menina. Tal caso imaginário sempre se refere ao sonhador; a memória visual [ou imagem memorizada] deve ser tomada como metáfora.
21 Sua irmã caçula sempre foi seu animalzinho de estimação. Ela é onze anos mais nova, e ele a ama carinhosamente, apesar de ter judiado muito dela quando eram crianças. Aquela irmã é importante porque é o elo com a criança doente, e a criança pertence à psicologia própria dele, estando, portanto, entre ele mesmo e sua irmã caçula, ou seja, próxima de seu coração. Assim, a irmã é simbólica; ela vive no exterior, em um país distante, e ele não tem correspondência com ela atualmente.
22 É mister ser cauteloso ao lidar com tais figuras em um sonho. Se a pessoa é muito chegada ao sonhador e tem importantes relações com ele, deve ser tomada como realidade tangível. Se uma esposa sonha com seu marido como ele realmente é, ela não pode assumir que ele é meramente simbólico. Mas um sonho com uma pessoa desconhecida, ou alguém conhecido há muito tempo, torna-se amplamente simbólico.
23 A irmã menor tem se tornado um tanto indiferente para ele atualmente, e não desempenha nenhum papel na vida presente do sonhador. A teoria freudiana explicaria a irmã como uma substituta para a esposa, mas há algo no sonho que nos permitiria pensar assim?
24 Sugestão: Seria a irmã uma substituta para a esposa por causa do enfraquecimento da afeição dele em ambos os casos?
25 Dr. Jung: Este elemento pode ser considerado. Mas ela é, de todo modo, diferente da esposa, e o sonho não dá pistas para a identidade dela. O aspecto principal da irmã não permite assumir que ela é uma substituta para a esposa, e ela não é a irmã real porque ela não desempenha um papel atual. Portanto, ela representa uma mulher desconhecida, ou um fator feminino de natureza desconhecida nele, que tem uma criança imaginária que está doente, uma mitologia psicológica, pessoal, concluindo em uma atmosfera obscura[3], assim como se estivéssemos ignorantes de todo o sonho. Assim, devemos assumir que isto é simbolismo subjetivo, uma condição peculiar na psicologia dele. Meu método, e cabo a rabo, é não fazer suposições, mas aceitar fatos. Em interpretações arbitrárias qualquer coisa pode ser substituta para qualquer coisa; cuidado com os prejuízos em favorecer a substituição. Não há nenhuma prova de que a irmã represente a esposa, os fatos são precisamente contra isso.
26 Doença da Criança: A primeira criança de sua irmã sofreu de um problema intestinal e morreu disso. É muito importante que, após a morte desta criança, sua irmã tornou-se muito ansiosa, com receio de que o segundo menino pudesse ficar doente, mas ele não adoeceu. Ela ficou particularmente séria e entrou para a Christian Science, e foi como se o garoto estivesse realmente melhor; o homem não sabe se isto foi uma coincidência ou conseqüência do fato de que a irmã estivesse mais calma e tratasse a criança com mais autoconfiança. Se uma mãe é torturada por medos, a criança provavelmente falhará em corresponder às expectativas da mãe. A morte da primeira criança tendo o efeito de fazer sua irmã entrar para a Christian Science é um fato pertinente a ela, mas aqui ele o menciona. A conotação de Christian Science tem também a haver com aquele caráter feminino em sua própria psicologia; é decididamente uma pista. O fator feminino passou por certa conversão, e aquele homem, dentro dos últimos dois a três anos, começou a se interessar por filosofia, ocultismo, teosofia[4], e todo tipo de coisas esquisitas; ele era muito nivelado[5] para ser afetado por isso, embora tivesse um traço místico.
27 Pergunta: Ele teve este sonho depois de começar o trabalho com o senhor?
28 Dr. Jung: Sim, após sua decisão de trabalhar com os sonhos. Quando sua irmã tornou-se interessada na Christian Science, ele foi para o espiritualismo, etc., de modo que o elemento feminino nele o levou a este interesse. Houve uma mudança nele. Ele era um homem de negócios, e toda sua iniciativa estava associada a assuntos de negócios; não obstante, esses interesses infiltraram-se nele; lentamente ele ficou imbuído de idéias filosóficas. Ele não lia como um estudante, não procurava, efetivamente, um objetivo; lia sobre o assunto, isso ou aquilo, algo chamava sua atenção e ele permitia que isto o influenciasse, mergulhando nele - a maneira feminina de dar a um objeto a chance de ter uma influência sobre ele. Ele mostra um caráter inteiramente feminino em seus interesses místicos e filosóficos. Assim sabemos que a criança é uma criança daquele fator feminino nele.
29 Seu cunhado é a segunda figura no sonho. Foram amigos por longo tempo, ele o conhecia antes do casamento com sua irmã; eles estavam no mesmo negócio e iam à ópera juntos, sendo seu cunhado muito musical. Ele disse: "Adquiri toda minha música - não muita - através de meu cunhado, enquanto ele vinha, através de mim, para minha firma de negócios; agora ele tem um cargo de diretor; eu fiquei um tanto desapontado por ele demorar tanto para au fait[6] com o novo negócio, embora ele tenha mais facilidade do que eu para lidar com as pessoas". Eu perguntei se ele ainda tinha conexão com seu cunhado e ele disse que não, ele havia desistido da sociedade de negócio e deixado o país. Assim, efetivamente o cunhado também vive distante, há muito poucas cartas, e ele não desempenha papel notório em sua vida. É tão difícil alegar qualquer realidade com relação ao cunhado quanto é com relação à irmã caçula. Tive a impressão de muito pouca realidade presente sobre ele, embora estivesse em melhores termos com sua esposa do que em seu próprio caso[7].O paciente não é nada artístico; portanto, somos levados a acreditar que o cunhado, através de suas qualidades musicais e de pouco tino para os negócios, simboliza outro lado do sonhador; ele não é tão eficiente quanto o paciente, mas tem algo a mais no lado artístico. A música é o símbolo de uma perspectiva curva para o sonhador; é a arte do sentimento par excellence.
30 Sócrates era um terrível racionalista, insuportável, de modo que seu dáimon[8] lhe disse: "Sócrates, você devia fazer mais música"[9]. E o caro e velho Sócrates comprou uma flauta e tocou coisas horríveis! É claro que o dáimon queria dizer: "Pratique mais o sentimento, não seja tão miseravelmente racional o dia inteiro". Isto poderia ser aplicado ao paciente muito adequadamente. Ele é muito intelectual e seco, e tenta forçar tudo para um esquema racionalista, tenta regular a vida através de linhas precisas, e não permite nada como o sentimento, exceto em um concerto ocasional, porque pessoas respeitáveis e direitas às vezes vão aos concertos ou à ópera. Ele ia, não porque acreditava nisto, mas porque pessoas corretas iam; nenhum amor o levou para lá. Assim eu penso que o cunhado simboliza o lado menos eficiente deste homem, a figura emocional, onírica, que ele é no outro lado. Como ele é um ser humano, ele naturalmente tem todas as tendências em si, como todos temos. Ele acalenta a propositada ilusão de que ele é um mecanismo eficiente e, porque pode andar sobre trilhos em linha reta, ele tem tido considerável sucesso como homem de negócios; ele tem esta vantagem sobre seu cunhado, que é impedido por suas emoções. Nosso paciente pensa que podia livrar-se delas, mas isto é uma ilusão. Ninguém pode desligar os sentimentos humanos sem más conseqüências. Evidentemente ele esconde seus sentimentos, mas então eles se acumulam, e isso causará danos; ou o peso do que quer que se acumule cairá sobre ele, ou explode porão abaixo. Desde que somos humanos, temos todas as funções, e cada função tem sua energia específica que deve ser aplicada ou ela se aplicará de per si.
31 O cunhado, de acordo com sua natureza, convida-o para ir ao teatro e jantar posteriormente. O paciente diz: "Eu não posso me lembrar de ter ido ao teatro com meu cunhado desde seu casamento; se assim foi, estivemos juntos com nossas esposas; sequer jantei com ele, exceto em sua própria casa". Novamente, esta não é uma reminiscência de uma situação efetiva; isto nunca ocorreu na realidade, e é portanto uma intervenção simbólica. O teatro é o lugar da vida irreal, é a vida em forma de imagens, um instituto psicoterapêutico onde os complexos são representados; lá é possível ver como estas coisas funcionam. Os filmes são bem mais eficientes que o teatro; são menos restritos, capazes de produzir símbolos espantosos para mostrar o inconsciente coletivo, já que seus métodos de apresentação são tão ilimitados. Os sonhos expressam certos processos em nosso inconsciente, e enquanto o teatro é relativamente pobre e restrito os sonhos não são, de modo algum, restritos. Assim, ao convidá-lo para o teatro, seu cunhado o convida para a representação de seus complexos - onde todas as imagens são representações simbólicas ou inconscientes de seus próprios complexos.
32 E jantar posteriormente: comer os complexos. Comunhão significa comer um complexo, originalmente um animal sacrificial, o animal-totem, a representação dos instintos básicos daquele clã em particular. Você digere seu inconsciente ou seus ancestrais e assim adiciona força a você mesmo. Comer o animal-totem[10], os instintos, comer as imagens, significa assimilá-las, integrá-las. O que você vê inicialmente na tela lhe interessa, você observa, e aquilo penetra em seu ser, você é aquilo[11]. É um processo de assimilação psicológica. Olhando para a cena, o espectador diz ao ator: "Hodie tibi, cras midi!"[12] Este provérbio latino é a essência da representação[13]. Olhe para as imagens inconscientes e depois de um tempo você as assimila, elas lhe tomam e se tornam parte de você - uma espécie de momento significativo.
33 Santo Agostinho, em suas Confissões, fala de seu amigo Alípio, um cristão convertido, que sentiu que o pior do paganismo não era o culto dos deuses, mas a terrível crueldade e carnificina da arena; assim, ele fez votos que nunca mais iria lá. Mas, passado um dia, viu todas as pessoas afluindo para lá, entrou na onda e foi. Fechou seus olhos e jurou que não os abriria, mas quando o gladiador caiu e ele ouviu as pessoas gritando, ele abriu seus olhos, e dali em diante gritou por sangue junto com a multidão - "naquele momento sua alma foi ferida por um ferimento mais terrível que aquele do gladiador"[14].
34 Não é de todo indiferente que as imagens possuam alguém; não se pode ver algo, como por exemplo o feio, sem ser punido; o aspecto da feiúra traz algo feio à alma, especialmente se o germe já está lá. No começo, não reconhecemos aquilo como nós mesmos. Santo Agostinho escreveu: "Eu vos agradeço, Senhor, que não me fizestes responsável por meus sonhos". Um santo teria sonhos terríveis! Nós somos humanos, qualquer coisa pode nos alcançar, pois alcançamos dos deuses ao inferno. E só então, quando estamos horrorizados, aborrecidos e caóticos, choramos por um Salvador; como no tempo de Cristo, aquilo que era representado diariamente na arena demonstrava a necessidade de um salvador. É um fato interessante que, em vários sistemas gnósticos, a definição de salvador é "o demarcador de limites"[15], aquele que nos dá uma clara idéia de onde começamos e onde terminamos. Muitas pessoas não sabem, são muito pequenas ou muito grandes, particularmente quando começam a assimilar as imagens do inconsciente. É como a história do velho Schopenhauer: absorto, no jardim de gala de Frankfurt, ele caminhou para o meio de uma floreira, e um jardineiro chamou-o: "Ei, o que você está fazendo na floreira? Quem é você?" "Ah, exatamente, se ao menos eu soubesse!", disse Schopenhauer. É por isso que as pessoas preferem uma persona segura[16]: "este sou eu"; caso contrário, elas não sabem quem realmente são. O principal medo do inconsciente é o de esquecermos quem somos.
35 O teatro e o jantar são uma antecipação do processo de análise. No primeiro sonho, as pessoas freqüentemente obtêm a essência de todo o processo a seguir; eu vi este paciente por longo tempo, a intervalos, e foram necessários dezoito meses para que ele compreendesse o que o teatro privado significava. O lado sentimento de sua personalidade, aquele lado dele que não estava nos negócios, estava desligado da vida, não estava nem mesmo em seu casamento. O cunhado é como uma segunda personalidade, que o convida, em seu sonho, para jantarem a sós, sem as mulheres. Aqui chegamos ao significado simbólico das esposas: elas são as emoções, pois é deste modo que o homem usualmente familiariza-se com a mulher. Ele deixar em casa o fator emocional ou não haverá objetividade; ele não pode observar o quadro ou pensar sobre si mesmo quando emocional. Isso tudo é bastante metafórico. Este homem era tão correto, tão sinceramente direito, que se alguém mostrasse a ele o que lhe estava acontecendo realmente ele ficaria horrorizado e não teria objetividade. Ele precisa, primeiro, deixar as emoções e olhar para as imagens de modo muito calmo e objetivo. Eu sempre o deixei longe das emoções, de modo a deixá-lo ver os fatos.
36 Pergunta: E com relação à mulher?
37 Dr. Jung: É bem diferente com as mulheres; as mulheres precisam ter emoções, caso contrário não conseguem ver nada. Uma mulher chora porque está aborrecida, cansada, irada, alegre, qualquer coisa - mas não porque está triste. Suas emoções são sempre por um certo propósito, ela pode trabalhar com suas emoções; se ela admite isto ou não é outro problema. Um homem nunca tem emoções por um propósito; ele não pode ser analisado através de suas emoções; trabalhe com suas emoções e ele fica estúpido; é destrutivo. Já a mulher só pode ser analisada através de suas emoções; ela se torna emotiva de forma muito frutífera; se não se pode chegar às emoções de uma mulher, chega-se a nada, só se pode falar à sua assim chamada mente como se fosse a uma biblioteca, perfeitamente seco. Seu ser real é Eros.
38 Uma voz: Não nos faça sentir inferiores, porque realmente nos sentimos superiores!
39 Dr. Jung: Está certo, emocione-se sobre isso! É difícil lidar com lágrimas na análise; um homem acha excessivamente difícil descobrir como estas armas devem ser usadas; e uma mulher tem o mesmo problema em descobrir como atingir o intelecto dele. Uma mulher não pode tomar Logos puro de um homem; um homem não pode tomar Eros puro de uma mulher.
40 Pergunta: Há algum valor nas emoções de um homem?
41 Dr. Jung: Sim, como matéria-prima, como diamantes não polidos. A emoção de um homem é um produto natural, não há nada proposital nela; mas é genuína e valiosa se puder fazer-se uso dela. Como um sonho, ela acontece. Só é útil quando, através de tremendo autocontrole, ele pode atuar sua emoção quando está frio; então, com esse elemento proposital, ele pode atuar e desempenhar. Mas, afinal, essas não são realmente emoções! Uma mulher trabalha através de suas emoções, com todo talento, como um homem trabalha com sua mente - há sempre um propósito. Já a mente de uma mulher tem toda a inocência e ausência de propósito de um produto natural. Esta é a razão pela qual há tantos demônios poderosos entre as mulheres, como Madame de Maintenon ou Madame de Pompadour. Quando uma femme inspiratrice[17] trabalha com sua mente ela produz no homem a "semente do Logos"[18]. O homem teme numa mulher "o formidável segredo de suas ancas", sua forma de potência criativa. E a mulher teme no homem "o formidável segredo de seu cérebro"; o útero criativo de um homem está em sua cabeça. Uma mulher tem tanto terror daquilo que ela vê na mente de um homem quanto um homem tem da criança produzida. Um homem acha misterioso, perigoso, aterrorizante que ela traga à luz uma criança: ele adere ao amor e algo cresce. Isso toma uma forma cômica no Adam and Eve[19] de Erskine, na terrível ansiedade de Adão sobre uma vaca que deu à luz um bezerro. Por que não algo completamente diferente? E ele se pergunta por que uma mulher deve sempre dar à luz uma criança. Por que apenas um ser humano? Por que não, talvez, um bezerro? O que sai poderia ser qualquer coisa, não se pode ter certeza de nada! É o medo característico de um homem por uma espécie indefinida de efeito.
42 O próximo aspecto no sonho é que ele pensa que já jantou, e portanto é supérfluo jantar novamente. Ele não tem associações, de modo que somos livres para conjeturar. Talvez ele pense que já se assimilou, sente que está completo, um indivíduo perfeito e moderno, sem necessidade de vir a mim nem de assimilar qualquer coisa a mais - alguma resistência contra a análise. Não obstante, ele concorda e vai com seu cunhado. "Não é meu hábito sair à noite, eu prefiro ficar em casa. Deve ser uma condição particular para aquela que me induz a sair, como por exemplo uma peça em que minha mulher esteja interessada, caso no qual, se eu não for, ela vai para a cama mais cedo". Ele aceita o fato de que ele poderia ver mais de si próprio e passar pela análise; ainda assim, ele enfatiza o fato de que não gosta de sair, e sairia somente por algo especialmente interessante ou alguma coisa que interessasse à sua esposa. Esta é sua correção; um homem fora de casa é suspeito, um esposo só deve se interessar por assuntos públicos ou em coisas das quais sua esposa gosta, e nunca ir a lugares ou peças fora do comum. Seu último comentário - que ela vai para a cama mais cedo - abre uma perspectiva. Sua esposa preferiria dormir do que aborrecer-se mortalmente com ele. Noite mais excitante! Por isso é que boceja com resistência interna: Mari - e boceja! Obviamente, esta é a situação em casa: aquela associação com "ah" ao final de "Mari".
[1] (N. do T.): Esse sonho é mencionado por Jung no Vol. XVI de suas obras, A Prática da Psicoterapia, no capítulo IV, Objetivos da Psicoterapia, parágrafos 92 a 94.
[2] (N. do T.): façon de parler = forma de falar.
[3] (N. do T.): A expressão desta oração é "concluding in blue air as much as if we were in ignorance of the whole dream". "Blue air" foi traduzido, aqui, pelo sentido figurado de "blue", que pode indicar melancolia, depressão, tristeza. Pelo restante da frase se deduz o sentido de obscuridade.
[4] (N. do T.): A Teosofia, distinta da Teologia, é uma escola místico-filosófica de fundo oriental que teve maior expressão na primeira metade do século XX. Tem como um de seus expoentes a Sra. Helena Petrovna Blavatsky, autora, entre outras coisas, da Doutrina Secreta (publicada no Brasil em seis volumes pela Editora Pensamento), um tratado em que ela procura expor as origens do homem e do universo, segundo estudos místicos variados, que tomam por principal base os antigos textos védicos.
[5] (N. do T.): A expressão traduzida por nivelado é "level-headed".
[6] (N. do T.): Au fait (francês) = a par.
[7] (N. do T.): Não está muito clara a referência a respeito de com quem se dá a impressão de pouca realidade, mas é possível pensar que o "ele" aqui é referência ao cunhado. O que se segue é possivelmente uma comparação entre o casamento do homem sob análise e o casamento do cunhado deste analisando.
[8] (N. do T.): Também se usa traduzir daemon por daimonion.
[9] Conf. Phaedo, 60e; M.-L. von Franz, "The Dream of Socrates", Spring, 1954; "Foreword to the I Ching (1950)", CW 11, parágrafo 995. [(N. do T.): "Socrates, thou shouldst make more music". No Volume XI (Psicologia da Religião Ocidental e Oriental) das obras de Jung em português, o título é Prefácio ao I Ging, e localiza-se o texto a partir do parágrafo 964, e a menção a Sócrates se faz no parágrafo 994. É preciso notar que a tradução constante do Volume XI da edição em português foi obtida a partir da edição alemã, e segundo o original escrito em 1948 por Jung para a edição inglesa; na edição inglesa, houve participação de Cary F. Baynes para a tradução. Existem diferenças entre a tradução da versão inglesa para o português e da versão do alemão para o português. Para uma comparação entre as traduções deste prefácio para o português, ver o I Ching - O Livro das Mutações, de Richard Wilhelm, Edição Brasileira, publicado pela Editora Pensamento. O texto traduzido na Edição Brasileira do I Ching de Wilhelm foi obtido a partir da Edição Inglesa, Bollingen Series XIX, Princeton, 1972. Uma breve comparação revela diferenças que são, no mínimo, preocupantes.]
[10] (N. do T.): O animal-totem é um animal sagrado.
[11] (N. do T.): Pela estrutura da língua inglesa, esta frase também pode ser lida assim: "você está aquilo".
[12] "Hoje por você, amanhã por mim". Uma inversão do Eclesiástico 38:22, no qual se lê "hodie mihi, cras tibi" ou "Midi heri, et tibi hodie" (Ontem por mim, hoje por ti). (N. do T.): A Edição Barsa da Bíblia Sagrada, Tradução do Padre Antônio Pereira de Figueiredo, 1967, publicada pela Catholic Press, traz essa citação no versículo 38:23 do Eclesiástico, cuja íntegra é a seguinte: "Lembra-te do estreito juízo por onde já passei: porque assim o será também o teu: ontem por mim, e hoje por ti".
[13] (N. do T.): Aqui "acting" foi traduzido como representação. Provavelmente a referência é à ação de representar, em vista da referência imediatamente anterior à peça teatral.
[14] (N. do T.): As Confissões de Santo Agostinho, Livro VI, capítulos 7-8, in Santo Agostinho, Os Pensadores, São Paulo: Nova Cultural, 1987. Para a história de Alípio em maior detalhe, ver Símbolos da Transformação (1952), Vol. V das Obras Completas de C. G. Jung, parágrafo 102, Petrópolis: Vozes, 1986. O editor do texto em inglês original, nesta mesma nota (que é ampliada a partir daquela), faz o comentário de que este parágrafo não é encontrado na edição de 1912. (N. do E.): Sems. "Aloysius" é substituído por "Alipius".
[15] Na Gnose Valentiniana, o poder que impede Sophia, em sua procura pelo Pai, de ser dissolvida pela suavidade do Abismo, e que consolida-a e a traz de volta a si mesma, é chamado Limite (horos). [RFCH] Cf. Hans Jonas, The Gnostic Religion (Boston, 1958), pág. 182, e (N. do T.) Aion - Estudos sobre o Simbolismo do Si-mesmo (1951), Vol. IX/2 das Obras Completas de C. G. Jung, Petrópolis: Vozes, 1988, parágrafo 118, nota 87.
[16] Do latim persona: no drama clássico, a máscara utilizada por um ator para indicar o papel que desempenhava. Na terminologia junguiana, é a face oficial, profissional ou social, que apresentamos ao mundo. Ver Estudos Sobre Psicologia Analítica, Vol. VII das Obras Completas de C. G. Jung, parágrafos 243 e seguintes; e Tipos Psicológicos, Vol. VI das Obras Completas de C. G. Jung, parágrafos 877, 752 e seguintes, ambos editados pela Vozes, e adiante, neste texto [página a indicar, correspondente à tradução da página 74 do original].
[17] (N. do T.): do francês, mulher inspiradora.
[18] (N. do T.): no original a expressão é "seed Logos".
[19] A novela de John Erskine, Adam and Eve: Though He Knew Better (Ïndianápolis, 1927).

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